A Historia de um resgate feito por Isabela Gorini
Nada acontece por acaso:
Era mais uma tarde normal, em que eu tinha que ir para a aula para não levar falta, mas parece que tudo naquele dia me encaminhou para encontrar o Godô.
O prédio da minha faculdade é dividido em blocos, minha aula era no Bloco D, mas eu sempre subia pelo elevador do bloco A e andava por dentro do prédio para chegar a minha sala.
Nesse dia decidi subir direto pelo bloco D.
Encontrei meu namorado, Vitor, no caminho, e o mesmo me disse que tinha escutado alguém falar de um cãozinho abandonado que estava machucado, mas que não o tinha visto.
Adivinha onde ele estava?
Numa caminha improvisada que uns alunos fizeram com lençóis e até a blusa de um deles, deitadinho bem do lado da escada do Bloco D
Meu coração quebrou na hora, fiz um carinho nele mas precisava correr para responder à chamada.
Tirei fotos dele e durante a aula, agoniada, já comecei a fazer publicações em todos os grupos do Facebook que participava e no meu perfil, pedindo pra todo mundo compartilhar, eu queria pra sair logo daquela aula e voltar para ver como o cachorrinho estava.
Ele estava lá deitadinho, sem se mexer muito, com certeza pela dor dos ferimentos: uma patinha com os dois dedinhos da ponta quebrados e umas feridas abertas bem recentes nas patas dianteiras. Sentei do lado dele e na hora ele apoiou a cabecinha na minha perna.
O Resgate – As primeiras providências:
Eu já ajudei muitos cães, alguns machucados inclusive, mas nunca tive uma conexão tão grande a ponto de sentir que aquele bichinho me escolheu, eu era a mãe dele, ele sabia disso e eu também.
Vitor foi nos restaurantes que tem na faculdade pedir restos de comida para darmos ao bichinho. Arroz, carne, o que pudesse sustentar aquele cachorro magrinho, magrinho.
Ele conseguiu bastante comida. Godô comeu assim que viu. Comia rápido e do nada parava, acredito que pela dor, mas comeu tudo.
Outros alunos começaram a se reunir em volta da gente e começamos a bolar um plano de como ajudar aquele bichinho. Todos se propuseram a doar a quantia que fosse, ajudar a arrecadar dinheiro, remédios, o que desse.
Mas precisávamos de um lar temporário para ele, pois não dava para cuidar com ele abandonado na rua, não é?
O Resgate – Um lar temporário!
Meu namorado mora numa quitinete na faculdade mesmo, nem o consultei antes de falar:
“A gente fica, ele passa a noite com a gente e começamos a buscar um lar temporário, mas essa noite ele passa com a gente”.
Preciso ressaltar uma coisa importante. Quando estávamos à caminho da casa do Vitor, encontramos uma senhora que trabalha na faculdade e faz parte de um grupo que ajuda os animais de lá.
Ela nos ajudou com diversas dicas e nos deu um anti inflamatório para o Godô aguentar passar a noite.
Em casa eu já tenho 4 cachorros, 3 da minha mãe e 1 meu. Então ela enlouqueceu quando falei do nosso plano de passar a noite com ele e procurar um lar temporário. Minha mãe sabia que ia sobrar pra ela.
O Resgate – Ajuda virtual e confiança
Começamos um grupo no Whatsapp, várias pessoas fora do grupo também me procuraram para fazer doações.
Nota: Eu, Tania Lordêllo aqui da Organizar Cão, fiquei sabendo dessa história pelo grupo de moradores do condomínio. Isabela postou um texto e fotos pedindo ajuda. Criou um grupo no WhatsApp e deixou o link para quem quisesse entrar para ajudar. Eu entrei e ajudei com doação em dinheiro.
No dia seguinte minha mãe nos buscou para levá-lo ao veterinário para fazer os exames de rotina e cuidar dos seus ferimentos.
Olha, há momentos em que perdemos a fé na humanidade, mas nesse tempo todo em que estávamos o tratando, as pessoas foram tão incríveis.
Conseguimos arrecadar um valor perto de 2 mil reais, não me lembro exatamente a quantia, todos confiaram muito em nós e eu queria passar essa confiança para eles também.
Mandava comprovante de tudo, fotos do cachorrinho, contava tudo que os veterinários nos falavam, mandava os resultados dos exames, fazia tudo que eu podia para retribuir o carinho enorme que todos tiveram conosco nesse tempo todo.
O Resgate – A procura de um lar
Não achamos lar temporário, e ele não podia ficar aqui em casa pois não sabíamos as doenças que ele poderia ter e passar para os nossos cachorros, então ficamos com ele na casa do Vitor até os resultados saírem, enquanto isso a busca por um lar temporário e/ou um lar adotivo fixo para ele continuava.
Tratamos dele, cuidamos dos ferimentos, conseguimos deixá-lo100%.
Faltava apenas a castração, que foi em dezembro de 2018, mas não achávamos um lar para ele.
Minha amiga, a Carol (que agora é madrinha dele haha), nos ajudou muito também. Um dia fizemos uma sessão de fotos dele para publicações procurando uma família adotiva para ele.
Eu estava apaixonada e com o coração na mão, sabia que ele era meu filho e ele era grudado em mim. Mas minha mãe mandava eu continuar na busca de um novo lar pra ele. E eu só queria ele na minha vida.
Tinha medo de achar uma família que parecesse boa, mas acabasse maltratando ele. Afinal ele era só um filhote, tinha menos de 1 ano quando o resgatamos. Ele podia crescer, ficar agitado, e ser abandonado novamente.
Sabia que comigo ele estava seguro pro resto da vidinha dele, mas ainda moro com meus pais e não tenho salário fixo, então sem o apoio deles não teria como adotá-lo.
Como não conseguimos um novo lar para ele, eu e Vitor conversamos muito, muito mesmo, e então decidimos que ele é nosso filho, ia ficar com a gente. Fazemos nossas economias, guardamos dinheiro na poupança para ele.
No final de semana ele fica na minha casa com o Vitor, e durante a semana na casa do Vitor. A gente deu nosso jeito, conseguimos ficar com nosso bebê.
Minha mãe surtou um pouco com essa decisão. Mas agora chama ele de “meu netinho”, e toda segunda-feira leva a gente e ele para a casa do Vitor. Na sexta à noite eles voltam para minha casa com minha amiga Carol.
O Resgate – Final feliz
O resgatamos dia 20 de junho de 2018, nosso aniversário de 2 anos e 5 meses de namoro.
De acordo com os veterinários, em outubro mais ou menos ele faria 1 ano, contamos seu aniversário todo dia 20 de outubro.
As vezes ainda passamos uns apertos, mas nada fora do normal. Tem muita gente nos apoiando e nos ajudando, nossos amigos principalmente. Minha mãe (que ainda acha que ele devia ter ido para uma família adotiva) já o adotou como neto, e nos ajuda com o que pode e o que não pode também.
No final o amor sempre dá um jeito, e hoje somos a mini família mais feliz que existe, eu, meu namorado, o Hunter (meu velhinho) e o Godofredo, nome que demos ao nosso bebê que nos escolheu.
A relação dele como o irmão mais velho é muito engraçada, os dois morrem de ciúmes da gente, o Hunter tem mais, e o Godô idolatra o Hunter como um Deus hahaha, e nos amamos demais.
Só temos a agradecer a todos que nos ajudaram (e ainda ajudam), nos apoiaram e sempre estiveram com a gente.
Esse é nosso final feliz!